Um ano após a morte da cantora Marília Mendonça, as investigações sobre o acidente que matou a artista chegam à sua fase final. Segundo o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da Força Aérea Brasileira, a coleta de dados e as pesquisas sobre o acidente já foram concluídas, e o que resta é a produção do relatório sobre o caso. Nesta sexta-feira, a Polícia Civil de Minas Gerais afirmou aguardar o documento para concluir a sua investigação.
A última etapa da investigação da Cenipa envolve a discussão e a redação de um documento com novas recomendações de segurança. Segundo o órgão, seu objetivo não é atribuir responsabilidade ou culpa, mas ajudar a evitar que novos acidentes se repitam. Não há prazo oficial para sua conclusão.
Há um ano, a aeronave que levava Marília Mendonça e outras quatro pessoas para o aeroporto de Caratinga caiu após colidir com um cabo da Companhia de Energia de Minas Gerais (Cemig). Todos dentro do bimotor morreram.
Em coletiva nesta sexta-feira, a Polícia Civil de Minas Gerais afirmou que o acidente aconteceu após o piloto da aeronave Geraldo Medeiros não ter seguido o padrão de pouso do aeródromo.
— O que a gente sabe mediante depoimentos feitos é que o piloto não fez a manobra que se esperava, ele saiu da zona de proteção do aeródromo — afirmou o delegado Ivan Lopes, que disse ter falado com pilotos que aterrissaram no aeroporto no mesmo dia. — Não há uma obrigatoriedade de pousar nessa forma padrão, mas, quando ele sai dessa zona de proteção do aeródromo, é por conta e risco dele. Ele se afastou muito, veio muito baixo e se chocou.
Nenhum problema técnico foi relatado pelo piloto ao longo do voo. Ainda de acordo com o delegado, a Cemig não estava obrigada a sinalizar a existência dos cabos de energia, por estarem além da zona de proteção do aeródromo, delimitada por um raio de três quilômetros.
O advogado Sergio Alonso, que representa a filha do piloto Vitória Medeiros em uma ação indenizatória contra a Cemig, afirma que a empresa deveria ter sinalizado a presença dos cabos de transmissão. A ação foi ajuizada nesta quinta-feira, após a conclusão de uma longa perícia sobre o caso encomendada pela família do piloto.
— A aproximação é feita de fora para dentro da zona de proteção. Como tinha esse fio, os aviões que conhecem essa região fazem o mergulho antes, de forma abrupta. Esse foi o primeiro voo dele no local, e a norma em aviões comerciais é fazer curvas de pequena inclinação, suaves — disse o advogado Sergio Alonso, explicando a opção do piloto Geraldo Medeiros.
De acordo com Alonso, o piloto teve ainda sua visão prejudicada pelo sol, que estava em sua direção. A Cemig deveria ter sinalizado a presença das torres independentemente delas estarem ou não na zona de proteção, afirmou ainda.
— Ela plantou um risco sem sinalização. Mesmo que a torre esteja fora da zona de proteção, ela está por 800 metros. Não são nem 10 segundos para o avião passar. Por que ela não teve o bom senso de sinalizar? Ela correu o risco — conclui o advogado, especializado em Direito Aeronáutico.
A torre que causou a queda do avião continua no mesmo local. Procurada pelo GLOBO, a Cemig informou que as instalações estão de “acordo com as Normas Técnicas Brasileiras e a regulamentação em vigor”, não existindo necessidade de alteração. A estatal reafirmou ainda que não há necessidade de sinalização específica no caso.
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