A Rádio Senado veicula entre segunda (10) e sexta-feira (14) uma série especial sobre o projeto que busca regulamentar no Brasil a atividade de DJ (sigla que vem do inglês Disc Jockey) profissional (PLC 138/2018). Aprovado no final do ano passado pela Câmara dos Deputados, o projeto está sendo analisado na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado.
A série irá ao ar no programa “Conexão Senado”, a partir das 8h30, sendo reprisado às 22h. Foram entrevistados DJs e frequentadores de baladas e festas em Brasília, que falaram sobre diversos a cultura DJ e se são favoráveis ou não à regulamentação da atividade. Cada um dos cinco programas da série também estará disponível na página da Rádio Senado na internet.
Limites de jornada
O principal item do projeto reconhece como DJ profissional quem conseguir comprovar ao menos cinco anos de atividade na Subsecretaria Regional de Trabalho de seu estado. Quem ainda não tiver cinco anos de atuação terá que passar por um curso específico de nível médio, reconhecido pelo Ministério da Educação. O reconhecimento será válido em todo o país.
A proposta também busca fixar limites de jornadas de trabalho e pagamentos de horas extras e resguardar os DJs nas relações com contratantes, em questões de direitos autorais e até mesmo em eventuais situações de assédio moral. A proposta foi apresentada na Câmara pelo deputado Vicentinho (PT-SP) e foi aprovada em Plenário com o relatório de Maria do Rosário (PT-RS).
— Havendo essa regulamentação do DJ, passa a haver uma valorização maior. Aqueles DJs que são realmente da atividade, vão se aperfeiçoar mais, e isso tende a melhorar os ganhos. Como profissão regulamentada, passará a haver também recolhimento de impostos. Então, avalio que toda a sociedade tende a ganhar. Não fica como algo informal, como se fosse, “ah, vem tocar você e se diverte na festa”. Não, não é assim. Eu conheço ‘n’ pessoas que mantêm uma família com o trabalho de DJs. Porque não é só você chegar ali na frente e tocar. Tem a locação de equipamentos, tem a questão da iluminação e manter uma pista com 500, mil pessoas. Quando a gente pega uma festa maior, é mais complicado. Então, eu espero que seja regulamentado o quanto antes — afirma o DJ Wellington, especialista em festas “anos 90 e 80” em Brasília, e que já possui mais de 30 anos de atividade.
Prós e contras
Quem também é favorável à regulamentação é o DJ Diones 3.000, que participa de eventos de música eletrônica alternativa, e acredita que a proposta pode ajudar os DJs a escaparem de calotes de maus produtores.
— Hoje em dia a profissão de DJ é exercida amadoramente por muitas pessoas, e eu acho que ela é bem pouco valorizada mesmo. O momento ali de uma hora, uma hora e meia pra tocar é o mínimo, é bem a pontinha do iceberg do que aparece do trabalho do DJ, que é muito maior. [Existem] O pós, o antes… Então. acho que é importante regulamentar, sim. Às vezes acontecem coisas que você não espera… Chegar pra tocar e não conseguir, não receber também, o evento não estar bom e o pessoal não pagar, uma coisa que eu acho errado. Porque independentemente do evento estar bom ou ruim, o profissional vai lá, sai de casa, trabalha e pesquisa. Já tive experiências ruins e isso não é legal. Às vezes você acaba se envolvendo, indo nuns eventos que não são bem produzidos, e o DJ acaba pagando o pato de tudo num evento mal produzido, ou que acaba não acontecendo — diz.
Já o DJ Data Assault, também participante de eventos ligados à música eletrônica, diz ser indiferente à regulamentação ou não da profissão.
— Pra mim, sinceramente, não faz nenhuma diferença. Porque meu intuito enquanto DJ, é uma música mais de vanguarda, não tem tanta saída no meio comercial. Isso aí vai ter mais influência pra DJs que já trabalham com casas, com clubes, com sonorização de festas ou de casamentos. Nenhum festival, nenhuma casa vai deixar de me contratar porque eu não tenho um certificado desses [de DJ profissional]. Vai deixar de me contratar caso eu seja um péssimo DJ — afirma.
Estado psicológico
A série também trata de conexões entre a cultura DJ e qualidade de vida. O DJ Abeni Remix, que atua junto à comunidade LGBT de Brasília, ressalta que as festas possibilitam uma atmosfera de total liberdade para seus frequentadores.
— Em tempos como o que a gente está vivendo, é necessário que as pessoas saiam, extravasem e esvaziem realmente a cabeça. É meio o ponto de fuga da gente, porque falando pelo meio LGBT, que é o meio que eu conheço, é muito complicado a gente ser aberto em sociedade. É muito difícil até mesmo andar de mãos dadas, em meio às pessoas. Então lugares como estes, situações como essas [festas LGBT] são momentos onde a gente tem total liberdade para ser e fazer o que a gente quiser – diz.
O DJ Wellington, que começou em São Paulo e hoje atua em Brasília no segmento “anos 90 e 80”, também acredita que a cultura DJ tornou-se uma “válvula de escape” para que milhões de pessoas tentem escapar do estresse acumulado durante a semana.
— A profissão de DJ acaba sendo um terapeuta… Primeiro que relaxa, quando você está ali ouvindo o que você gosta. E também é super-legal você ver a pessoa se divertindo quando você está tocando. Sentir a pista, colocar uma música, você ver que a galera começou a dançar, e você seguindo aquela mesma linha, e a pista vai enchendo. E você vai melhorando a música, mais batidas, mais animado. E aí se você for fazer uma análise posterior, você colocou gente para dançar que, de repente, teve problemas no trabalho, teve problemas com a família, que brigou com o namorado, com o marido ou com a esposa… E está ali dançando, e de repente naquele momento está extravasando e melhorando a condição psicológica dele. Hoje eu vejo como uma válvula de escape pra muita gente — relata.
A série será reprisada na íntegra no sábado (15), às 10h, e no domingo (16), às 17h.
Agência Senado
Comentários