A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) deu início à implementação do projeto Idoso Bem Cuidado com a formalização, nesta terça-feira (06/09), da adesão das operadoras e prestadores de serviço à iniciativa. Ao todo, 64 propostas foram selecionadas de um total de 74 recebidas pela ANS. O número de projetos que serão implementados é quatro vezes superior ao que tinha sido inicialmente previsto, o que demonstra o interesse do setor em desenvolver medidas para aprimorar o cuidado à saúde da pessoa idosa no país.
Inicialmente, a iniciativa será desenvolvida em forma de experiência piloto. Ao longo de um ano, a ANS irá monitorar e mensurar os resultados da aplicação das medidas de cada participante, e os modelos que se mostrarem viáveis poderão ser replicados para o conjunto do setor, de forma a estimular mudanças perenes no sistema de saúde.
“O Idoso Bem Cuidado é um dos principais projetos de indução da qualidade da ANS. Com ele, queremos promover a melhoria contínua na prestação de serviços com resultados efetivos na saúde dos beneficiários”, afirma a diretora de Desenvolvimento Setorial da ANS, Martha Oliveira. “A proposta é apoiada em duas premissas: a mudança da prestação dos serviços, com a implementação de um modelo de cuidado mais organizado e eficiente para o idoso e também para o sistema de saúde, e a adoção de modelos de remuneração alternativos ou complementares ao que é atualmente utilizado – fee-for-service, ou seja, pagamento por procedimento ou serviço”, explica.
O modelo de cuidado que está sendo proposto pela ANS às operadoras e prestadores é composto por cinco níveis de cuidado: acolhimento, núcleo integrado de cuidado, ambulatório geriátrico, cuidados complexos de curta duração e cuidados longa duração. O maior destaque está nos três primeiros níveis, ou seja, nas instâncias leves de cuidado. “O reconhecimento precoce do risco reduz o impacto das condições crônicas na funcionalidade do idoso, fazendo com que seja possível monitorar a saúde e não a doença. Com isso, a pessoa pode usufruir seu tempo a mais de vida com qualidade”, destaca Martha Oliveira.
Um ponto fundamental para que as mudanças ocorram é a coordenação do atendimento prestado desde a porta de entrada no sistema e ao longo de todo o processo de cuidado. Espera-se, com isso, evitar redundâncias de exames e prescrições, interrupções na trajetória do usuário e complicações e efeitos adversos gerados pela desarticulação das intervenções em saúde. Como consequência, será possível observar a utilização mais adequada dos recursos do sistema como um todo – tanto por profissionais de saúde quanto pelo próprio paciente. O modelo proposto reforça também a necessidade de integração do cuidado por meio da figura do navegador – profissional de saúde que tem a responsabilidade de conduzir e articular os diferentes momentos do percurso do paciente pela rede assistencial.
Em relação à remuneração, está sendo proposta a adoção de modelos alternativos capazes de romper com a sucessão de consultas fragmentadas e descontextualizadas da realidade social e de saúde da pessoa idosa.
Acompanhamento – A ANS vai monitorar e mensurar os projetos através do acompanhamento de uma série de indicadores. Os obrigatórios são: número de consultas (com médico generalista, especialistas e equipe interdisciplinar); taxa de readmissão hospitalar; frequência e tempo médio de internação; frequência de idas a emergência; índice de retorno ao médico de referência; utilização de instrumentos específicos de medição de saúde de idosos; modelo de remuneração integrado com o modelo assistencial; percentual de idosos assistidos pelo “navegador” (profissional de saúde que tem a responsabilidade de conduzir e articular os diferentes momentos do percurso do paciente pela rede assistencial); e percentual de utilização de sistema de informação integrado.
Envelhecimento populacional – Atualmente, os brasileiros com 60 anos ou mais representam aproximadamente 11% do total da população. Estimativas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apontam que o número de pessoas com idade superior a 60 anos no Brasil deve aumentar em torno de cinco pontos percentuais nos próximos 30 anos.
Na saúde suplementar, a participação de idosos é bastante expressiva, especialmente entre as mulheres, as quais apresentam uma participação relativa superior à observada para o total da população. Dos cerca de 50 milhões de vínculos de beneficiários a planos privados de assistência médica no Brasil, 12,5% referem-se a pessoas com 60 anos ou mais.
A movimentação dos idosos beneficiários de planos de saúde apresenta um potencial para o aumento dos gastos do sistema em função das especificidades do próprio processo de envelhecimento, que apresenta características de morbimortalidade distintas dos demais grupos etários da população, em função da maior prevalência de doenças crônicas que demandem acompanhamento de longa duração por profissionais da área de saúde.
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